Ela limpa as lágrimas e reconstrói-se. Já haviam passado quase três anos. Três anos que ela havia lutado para tudo dar certo, então abrira mão, e com a escolha errada dele fez-se o destino. Destino? E ele existe? (…) Aquela escolha que levou ela a se apaixonar por outro homem nos momentos seguintes; aquele outro homem que a humilhara e fizera dela, por meses, pedaços. E apesar de tudo, não havia uma gota de raiva ou mágoa em relação ao primeiro. Ela abdicara dele pela felicidade do mesmo. Sobrara umas poucas fotos ou recordações...
O texto que ele mandara a pegara de surpresa. Não era grande, porém tocara tão profundamente nela. Carta de amor? Talvez não; mas cada palavra ressonava triste na cabeça dela. Um tempo impossível de voltar. Um amor interrompido pelo egoísmo de outra mulher.
Fora o texto mais belo que alguém poderia ter escrito a ela. Não, ela confessa, não há mais aquele sentimento de outrora, nem a vontade de reverter o que já fora... O que havia restado fora uma amizade sincera e suave, um companheirismo forte.
Não se pode prever o depois. Porém, é certo: é tarde...
"Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Prá ter argumento (...)
Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei."
"Resposta ao Tempo", Nana Caymmi.