Êxtase.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Sem amarras, barco embriagado ao mar
(Adriana Calcanhotto)


O que seria mais contraditório? Eu ter escrito sobre São Carlos na última postagem com um amor inexplicável e agora determinasse meu amor por Campinas? E esse coração completamente dividido, o que faço com ele? Dúvidas, dúvidas! Céus!

A arquitetura começou na moda associada a proteção. A criação de roupas não é nada mais que ela pura. Na sua escalada, chegou a proteção contra fenômenos naturais - residências -, depois veio os instrumentos, o crescimento das primeiras cidades, o urbanismo primitivo, a arte moderna, o contemporâneo, as cores, o tom, o contraste, o furor.
O que você pode fazer com um nanquim? E com uma caixa de lápis de cor? O que o ser humano tem de mais belo, ele carrega consigo o tempo todo: a criatividade. É com ela que ele determina seu modo de vida, seus hábitos, suas criações. A arquitetura está em todo lugar, é uma das vertentes das Sete Artes, é a base de todo modelo.
Sua função social é explicada em suas linhas, seus recortes, suas adições, sua física. O que carrega a arquitetura e sua função de igualdade? O que são estes arquitetos que pensam no retorno financeiro e apenas nesse? Não acredito em Deus e em nenhum entidade divina, mas creio que viemos ao mundo com uma razão, com um propósito. Cada um pode mudar algo, pode balançar seu próprio universo. Para mim, a arquitetura servirá para igualar aqueles que precisam de espaço e forma. Tanto espaço obsoleto, negativo, a espera de uma ocupação, com tantas pessoas procurando.
A última edição da revista "Arquitetura & Construção", por exemplo, nos mostra casas de até 150m², consideradas pequenas, porém extremamente confortáveis. Isso demonstra como podemos ser felizes com menos do que precisamos. Porém, a ambição humana vai destruir os espaços, a privatização de tudo vai acabar com a esperança de igualdade e humilhará nossos conceitos mais concretos de generosidade. A ambição quer muito mais do que espaço, ela quer êxtase!
Ela quer o êxtase do nosso dinheiro, das nossas esperanças, da nossa infantilidade, da compulsividade, do "capitalismo selvagem", do desejo e prazer. É preciso cada um lutar com suas ambição e repartir. Aprender a perdoar e aceitar as diferenças. O medo e preconceito estão associados ao desconhecido, ao que você não compreende. Imagino que os que lerem isso devem estar se perguntando se eu sou realmente a pessoa mais adequada em falar em perdão e ambição, entretanto todos nós temos o direito de tentar mudar, nem que seja um pouquinho a cada dia. O que não vale é você fingir que seu vizinho não existe, ou que seu irmão não se incomoda com a música alta do seu quarto. Retruque, reclame, mas faça sua parte, invés de esperar que os outros façam a parte deles. Aceite críticas, mas responda a insultos, como diria Arnaldo Jabor. E, sim, todos tem algo de bom para lhe ensinar.
A arquitetura é forte em seus traços, bruta em seus concretos, leve em seus panos. Ela é maleável, rígida e decidida quando precisa ser. Ela pode ser alterada, por ela mesma. Isso vale para todos nós.

A arquitetura me ensinou a olhar as coisas de outros olhos.
E você, o que tem feito?





Tudo inspirado em uma conversa no jantar com o Verde e a Chi.

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