#1 - Isa e o bilhete que passei adiante.

quinta-feira, junho 13, 2013

Isa,

Eu fiz o que você insistiu por esses três meses nos quais me mantive calada. Escrevi num pequeno papel e passei adiante aquelas emoções na garganta, engolidas antes de dormir. Não adianta mais beijos, minha amiga, agora eu só posso esperar ou fingir que nunca rabisquei aquelas palavras. De qualquer maneira, não importa mais, já foi. E logo mais quem vai sou eu, pois faltam 17 dias e não tenho mais tanto tempo nessa cidade. Obrigada pelo conforto do seus braços e tesão nesse meio-tempo, você sabe que existe tanta paixão nessa minha pele, porém o coração pertence a outro. Obrigada por sua racionalidade, pelo apoio e, claro, pelo colo. Sei que você passou por isso e me entende por completo.
"Você volta?", você sabe que eu sempre retorno ao ponto de apoio, àquela zona de conforto que você criou para me aninhar, assim como tem o meu calor como seu ponto de referência e atração nas noites solitárias. Mas, minha amante, precisamos de um chá de hibisco rosa e aqueles meus biscoitos de forno, algumas conversas sobre a mais nova manifestação do momento e suas divagações sobre como virginianos são chatos e eu sou "um exemplar insuportável, mas deliciosamente insuportável" - aliás, o mesmo comentário do meu pai, outro virginiano, que se mascara atrás de supostas características do signo.
Aquele bilhete foi difícil de escrever, você não tem ideia de como medi todas as palavras, de todas as três vezes que reescrevi para não esquecer de nada. Você riu do meu nervosismo e respondi com um resmungo mentiroso de "não é assim, vai". Não é fácil tentar começar algo sabendo que você está predestinada ao fim em duas semanas; às vezes me perguntando o que me levou a tentar começar, se não seria mais racional ter ficado no meu canto, fingindo que aquilo não era nada. Só que basta um pouquinho de esperança e um "não tenho nada a perder com isso, vou embora", que você arma um circo inteiro para o seu espetáculo. Mas agora que é de conhecimento... Ah, Isa, não adianta latir por três meses, tem que ter coragem pra morder.

0 reações