54 dias de saudade.

sábado, junho 28, 2014

Por causa de um amigo em uma rede social, lembrei que não falta muito para retornar ao Brasil.
Nas últimas duas semanas, isso se tornou claro para mim. Entre remarcação de passagens aéreas, reintegração com a Aiesec no Brasil, conversas mais constantes com amigos brasileiros e marcação da última viagem pela Europa me preocupando com a data da volta ao meu país. Ah. Isso passou batido no início. Ficou alheio aos meus olhos nos últimos dias, porém agora consegui parar pra pensar.
Eu estou quase voltando para casa.
Mas o que é casa para mim? É Belém? É São Carlos? É Newcastle? É qualquer lugar que eu possa me sentir confortável na minha cama, com amigos em um bar na sexta à noite e poder jogar no meu computador preguiçosamente em uma tarde de domingo. Alguns amigos de infância vão me condenar por isso, minha família vai me condenar com certeza, mas minha casa não é Belém. São Carlos? Talvez seja. Newcastle? Atualmente é!
Newcastle é tão minha casa atualmente quanto as outras duas são/foram/vão ser. Quando eu cheguei aqui, assustada com toda a mudança cultural. Lembro de me perder em Londres assim que cheguei, sendo ajudada por um gentil mexicano, que me guiou e me acompanhou até o meu hostel. Aquele moço foi o primeiro contato estrangeiro quando cheguei na Inglaterra. Estrangeiro? Eu sou a estrangeira aqui. Fiquei com medo no início, mas ele não tentou nada e até me adicionou no Facebook - alguém que eu converso periodicamente. Não é todo mundo que tem segundas intenções no olhar. O primeiro tapa na cara.
Newcastle. Eu cheguei e meu apartamento estava vazio ainda. Dois dias depois, Julian chega com os pais pra se mudar. Meu primeiro colega de apartamento na Inglaterra. Alguém que encontrei bêbado em uma festa na outra semana. Alguém que perguntou se eu gostava de Zelda quando olhou meu pingente. Alguém que se tornou mais do que um amigo, e sim meu companheiro de madrugadas. Dias seguintes, as meninas chegaram. Zoe, Shannon e Gen. E por fim, Tim e Joe chegaram no outro dia. Shannon ficou pouco tempo em nosso apartamento. Depois de dez meses, eu olho para trás e percebo o laço que criei com eles. De dividir as noites vendo filme, cozinhar aos domingos, sair para os bares, festas e até cair de bicicleta com eles. Quando abracei Gen chorando para me despedir dela a duas semanas atrás... Ah, que saudades dela. Há muitas coisas do Julian no meu quarto ainda, coisas que ele vai vir buscar pra fazer mudanças pra nova casa dele. Casa. O que é casa? É a cidade-natal dele na Holanda? É Newcastle? É os mais de quarenta países que ele já viajou?
Fora meus colegas de apartamento, como ficam as pessoas que conheci externamente? Como os meus amigos da Aiesec no Reino Unido? Não só os ingleses, mas os espanhóis, iranianos, suecos, italianos, escoceses, franceses, holandeses, chineses, taiwaneses... e a alemã que virou quase uma irmã pra mim! Me diz, por favor, como fica essa saudade antecipada no peito? O que eu faço pra que ela pare de me machucar antes mesmo que eu deixe a Europa?
Além deles, há os amigos brasileiros que fiz aqui. Tanto os três mais próximos, quanto aqueles que conheci recentemente, ou melhor, que descobri recentemente. Como faz pra lidar com essa separação? Vou ter que passar uma noite chorando embaixo das cobertas porque estou me separando de pessoas que se conectaram de alguma forma comigo? Vou abraçar e dizer "te vejo logo mais"? Ou vou fugir e não querer me despedir por medo dos pensamentos que vão ficar depois? Ou vou me arrepender de não ter ido dizer adeus? E o que é o adeus? Eu já dei tantos na minha vida, tanto para pessoas que foram fisicamente, quanto para pessoas que se desconectaram de outras maneiras.
Saudades do Brasil? Sim. Da família, dos meus bichos de estimação, dos meus amigos.
Saudades da Europa? Sim. De tanta coisa que não caberia em um texto de um blog, não daria pra explicar pra ninguém, que soaria ridículo contar.
54 dias pra voltar e pra deixar. 54 dias pra ir embora de casa. 54 dias pra voltar pra casa.
Esse é um apelo desesperado, um grito de socorro e um suspiro de tristeza por ter que seguir outro caminho, longe de tantos que fizeram desse meu ano extraordinário.

0 reações