You're a weirdo.

sexta-feira, junho 13, 2014


03:37. Está começando a amanhecer em Newcastle, enquanto alguém espera no escuro da sala por uma resposta, um sinal, uma voz. Mas nada, nada parece me desviar a atenção das silhuetas das janelas. A eminente e nem um pouco aguardada separação está se aproximando. Sei que esta vai ser a última dessa semana. A última e a menos esperada.
No sábado passado, eu precisei me separar primeiro daquela que foi o meu laço maternal inglês. E toda vez que abro a minha porta, ao encarar sua porta, vem-me a sua lembrança. Lembro de seus olhos cuidadosos, da força sincera em seus abraços apertados, além daquele beijo na testa que fazia qualquer tempestade dentro de mim perder a força. Foi amizade simples, o tipo de amor que era selado em risadas e em dois lados de uma única cama separados por uma parede. Eu fui covarde, não queria me despedir. Respirei, abri minha porta e bati na sua. Ao abrir a porta, antes mesmo que ela pudesse abrir um sorriso, a abracei e ali desabei. Desabei em seus braços, desabei por dentro. Não havia a necessidade de falar nada, sabíamos exatamente que aquele o que aquele abraço significava. Voltei para o meu quarto, dessa vez deixei que as lágrimas escorressem sem reservas. Ouvi ela arrastando suas malas enquanto eu respirava fundo sentada na janela sentindo a chuva bater nos meus pés. Alguns minutos após, pensei que estava tudo estava seguro para compartilhar algum tempo com o restante dos meus colegas de apartamento na cozinha. Eis a surpresa. Gen correu em minha direção da porta do apartamento, entre soluços, "eu vou sentir a sua falta" e "eu te amo", enquanto eu repetia-lhe as mesmas palavras e possuía as mesmas sensações. Abri meus braços para ela e pude ficar em paz.
03:56. Agora está mais claro ainda na sala e dessa vez eu posso ver o verde das árvores. Eu posso ver a camisa xadrez do Julian, várias caixas empilhadas e os sinais claros das novas despedidas. Mordi o lábio inferior ao enxugar algumas lágrimas teimosas. A experiência de criar laços com pessoas que moram do outro lado do oceano, de dividir os mesmos talheres, cozinhar juntos e de rir em conjunto ao ouvir as histórias de um Joe bêbado às quatro horas da manhã.... ah, como isso pesa aqui dentro.
(pausa para um holandês na cozinha)
Na verdade, acho que vou ficar com muito mais saudades de ouvir um Julian resmungando por tudo - com seu sotaque. Esse é de longe o meu laço mais forte nesse apartamento 24. Alguém para dividir as dores da vida às seis horas da manhã, para esperar séries de tevê nas madrugadas de segunda, para reclamar da arquitetura junto comigo, para corrigir todo mundo que fala Holland ao invés de Netherlands, para reclamar da minha obsessão por Zelda, para servir de comedor oficial dos bolos de cenoura, para me falar verdades sabendo que vai me machucar e, principalmente, para me encarar com aquele par de olhos esverdeado com um ligeiro sorriso no rosto e falar "você é estranha".
05:03. Voltando para o ninho. Cerca de dois dias restantes.

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