Sábado, o apartamento 24 e a vida que parou por algumas horas.

domingo, março 23, 2014

Ela acordou com alguém a sacudindo violentamente e pulou da cama assustada. Ouviu algo que a deixou mais em pânico ainda, prendeu o cabelo e correu para o quarto dele. Com um "pode entrar" fraco, abriu a porta para encarar aqueles olhos verdes, mas não eram os mesmos que a encaravam enquanto entravam pela porta da cozinha no meio da madrugada com insônia, não eram os mesmos que reclamavam ao serem contrariados, era um par de olhos verdes cansados, vermelhos, e com uma sombra ainda mais vermelha ao redor. Ela automaticamente o abraçou, enquanto ele enterrava o rosto em seu pescoço. Ficaram abraçados por algum tempo até se desvencilharem. 
Ele sempre foi o exemplo de força e frieza nesses últimos seis meses pra ela, um jovem com traços e hábitos de menino, mas um homem em suas decisões e opiniões. Ele passou por algumas situações complicadas e uma mais pesada durante esses meses, porém não demonstrou em nenhum segundo que algo havia o incomodado. Entretanto, o olhar que ele lançou à ela quando a mesma entrou por aquela porta era o mesmo de um pequeno filhote indefeso que fora abandonado na chuva, à procura de um abrigo, à procura de um abraço.
E foi isso que ela fez.
Tentou fazer o mais clichê dessas horas, entreter ele até quando possível. Sabia que não havia muito o que se fazer para que ele se sentisse melhor, mas procurou se manter por perto e disponível o tempo que ele precisasse. Lançava vários olhares para o rosto dele, procurando por sinais para se preocupar, mas aliviada, não os encontrou. Porém, enquanto o mesmo cortava seus pepinos e cenouras, ela olhou novamente para ele, e encontrou-o com o rosto junto à porta da geladeira escondendo-se em suas mãos. Ela ficou paralisada por alguns instantes, mas logo depois, envolveu o esquio e trêmulo corpo dele em um novo abraço. Recuperando a compostura, ele pôs-se a cortar os pimentões para o jantar e ela voltou para sua cadeira, com os olhos atentos aos dele.
Se separaram com votos que tudo ficaria bem, porém o mesmo não conseguia adormecer. Ela manteve-se ao seu lado, falando de jogos de videogame, risos, falaram de roteiros de viagem e uma hora a voz dele desapareceu. Havia pegado no sono. Suspirou aliviada e ficou de vigília por mais uma hora caso ele precisasse de mais apoio. Ele despertou e retomou o sono várias vezes, e por fim, depois de muito tempo, parecia que finalmente havia adormecido de vez. Porém a preocupação dela não a deixou dormir pelas horas seguintes, sendo vencida pelo cansaço no final das contas. Ao acordar no dia seguinte, procurou-o e ele já havia saído para a rápida viagem durante o dia em uma cidade próxima para espairecer com alguns amigos. Ela ligou o computador e recebeu uma mensagem do seu irmão do outro lado do oceano. Algo fez com que seu coração disparasse; ela não sabia se era a situação toda que havia passado nesse fim de semana ou o alívio de saber que seu irmão estava bem. Novamente, seus pensamentos voltaram ao jovem que estava em Edimburgo naquele domingo ensolarado, o mesmo jovem que perdera o irmão muitas horas atrás. 

But I will hold as long as you like
Just promise me that we'll be alright. 


Adaptado de uma história real.

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