Monólogo #27 - Gritando por mais

terça-feira, janeiro 18, 2011

Nota: é, eu não criei mais nenhum durante 2010 por falta de tempo. Segue este.

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Ain't born to lose baby, I’m born to win
I’m so goddamn sick baby, it’s a sin, it’s a sin.
(Queens Of The Stone Age)


18 de janeiro de 2010. A vida deu um giro de 180º ou foi uma criação da minha cabeça? Não, essa cidade em que caminho é completamente real. São Carlos é real.
Já andei quarenta e um quarteirões da Av. São Carlos, passei pela basílica, belas praças, pela prefeitura, pelo centro comercial, pelo mercado municipal, ao som de MGMT. Não quis que ninguém me acompanhasse, queria essa cidade assim, só pra mim. Não quero dividir minha calçada, quero sentir cada pedacinho dela, quero ouvir os sotaques de alguém quando eu parar pra comer pastel. Não quero ninguém ao meu lado, só quero essa cidade. Toda para mim.
Sentei na frente da basílica e parei para observar aqueles paulistanos pegando ônibus, paulistanos conversando, paulistanos xingando-se no trânsito. Tão iguais aos belenenses. E Belém? Ah, minha amada Belém. Quero-te amada, mas distante. Não, não te troquei, porém existe uma linha de distância entre nossos objetivos, que não nos unem mais.
Levanto e resolvo voltar para o apartamento. Eis uma ladeira que parece em inclinação de 90º graus. Outra diferença que amo em Belém: localizada em uma planície, mesmo que alague, não existem ladeiras tão altas. Mas São Carlos é serrana e isso não falta nessa cidade. Sobe, sobe, sobe. Sento na próxima praça puxando ar. Estava sedentária há um ano, imagina a dificuldade.
Casais se beijam. Cachorros correm. Crianças gritam. E eu observo o vai-e-vem dos carros feliz. Estive procurando essa sensação de complemento a vida toda e a encontrei.
Levanto para continuar encarando a ladeira e descê-la do outro lado, quase pulando, aos trotes. És bela, Sanca. Muito mais bela que São Paulo, mais que Campinas e de todas as outras que pude observar. És média, tímida, com corredores de vento entre seus poucos prédios, com suas grandes praças, seus museus, suas alamedas, seus dois belos campus da Usp e Ufscar, com seus ônibus que me lembram Belém. É menorzinha que Belém, custo de vida baixo, termina em Araraquara, tem uma praia fluvial. Dobro na Camargo Salles, perto do portão da matemática da Usp, para voltar ao apartamento.
Recebida com um beijo do namorado, vou para meu banho lembrando do quanto 2010 me fez bem, contrastando com o desastre que foi 2009. Eu lembro de 2009 com a intenção de nunca mais repetir aqueles erros, aquelas escolhas, aquelas palavras ditas (e não-ditas). As chances que escaparam das minhas mãos, as chances que deixei escapar. A dor que sofri e a dor que fiz alguém sofrer. Então, 2010. O Ideal veio como uma avalanche: de estudos e de sociabilidade. Novos amigos, um novo amor, novas risadas. Foi como se eu deixasse a Fernanda Pina e Frustrações para trás, e no lugar dela, floresceu a Fernanda Pina e a USP. É, a USP. O sonho, o objetivo, o tudo. Deixo qualquer coisa para trás por ela - exceto meu pai em grande urgência. Deixo meu conforto, deixo minhas coisas, meus gatos, minha família, amigos e namorado. Na verdade, deixar não é a palavra coerente para encaixar nisso. Talvez me afastar fisicamente. Não deixaria jamais o Manoel, onde quer que ele estivesse.
Conheci o Diego Sanz, o menino mais inocente e doce que um dia encontrei. Com os olhos "rasgados", tímido, carinhoso e meio bobo, que chega a ser engraçado. É um ano mais novo e tive dificuldades no início, pela grande quantidade de diferenças (que parece brotar cada dia mais), mas agora as diferenças me ajudam a ver as coisas com outros olhos. É ele que me recebe nos braços quando entrava na sala de aula e é ele que me recebeu agora para entrar no apartamento. Depois de 10 meses de namoro praticamente, tudo se aprofundou. Os sentimentos, as conversas, a relação em si, a felicidade. Me ensinou a confiar em alguém novamente.
Conheci decepções com as novas "amizades", mas já sabia muito bem como lidar com isso, então foi algo extremamente rápido. Sei escolher muito bem em quem confiar. E só confio em duas pessoas até o momento. E se elas quebrarem isso? Paciência. Aprendi a não depender de ninguém para realizar os meus desejos ou superações.
Você confia pensando na possibilidade dessa confiança quebrar. Você pode superar, pode perdoar, pode mandar a pessoa pra conchichina, pode odiar. E ninguém tem o mínimo direito de criticar seus sentimentos. Não, ninguém me ensinou isso. É algo meu e provavelmente de muita gente. Ninguém pode perdoar verdadeiramente odiando outro. Não seja hipócrita, que já me basta eu.
2010 passou voando, com minhas 5h diárias de sono. Torna-se extremamente difícil pra mim, agora, dormir mais do que isso. Voando com meus beijos com Diego, com minhas sonecas nas aulas de geografia no retorno, dos meus bilhetes com a Isabela sobre os namorados... Chegou a USP (Fuvest) e Unicamp, primeira fase, em novembro. Confesso que fiquei extremamente orgulhosa da minha nota da Unicamp, que dava pra tentar medicina. Passei pra segunda fase das duas. Uma primeira vitória. Agora, segunda fase. Como voltar pra Belém com saudades de São Carlos? Como voltar pra São Carlos, caso passe, com saudades de Belém?
Terminei o banho pra ir correr pelas ruas de São Carlos com a mão na do Diego. Sorvete e milhões de carinhos. Ele vai prestar São Carlos tambem, engenharia civil. Destino? Não, acaso.
E ele vai passar, com a maior certeza do mundo. São Carlos é a meta, São Carlos é tudo, a USP é tudo. Não quero a arquitetura da capital, eu quero a arquitetura social, quero tocar no gesso, tocar na tinta, não quero burocracia, quero sujeira, quero sentimentos. Cada um tem sua função social e precisa ir nessa direção sempre...
Acabei esse monólogo de maneira horrível e nem tá tão inspirado assim, mas acho que tá tudo dito. Acho que nem chega a ser monólogo.




Depois de um ano, você fica desesperado para escrever e escreve demais. É, porque amanhã (leia-se madrugada) tem mais.

1 reações

  1. ô, São Carlos, não queria que nos fizesses entrar em profundos devaneios sobre ti, sobre a tua magia, os teus lugares, as tuas ruas, as tuas ladeiras e por que não das tuas volúpias?
    Ô São Carlos, se soubesses o quanto nós te amamos, não nos faria ir atrás de ti, tu virias atrás de nós.
    Fernanda, de uma coisa eu te dou certeza: quem quer que esteja em um plano superior enxergou a nossa batalha, e eu não estou exagerando, batalhamos, suamos sangue! Quem quer que esteja lá, vai ser justo e nos fará ficar bêbados dia 7, 8 e 9, emendando uma festa na outra. Garanto.

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