#2 - Avalon e as separações.

sábado, junho 15, 2013

"Você não me parece lá muito bem", ela observou enquanto eu estava na sacada com os braços apoiados no parapeito. "Ah, é só o nervosismo que o fim das atividades está chegando. Tenho a sensação de ter sido negligente comigo mesma nesse semestre em várias áreas", respondi. "não sei se fiz tudo o que eu gostaria de ter feito, queria que esses dias não passassem tão rápido assim".
Ela suspirou e comentou que eu tinha escolha, só que fui tão medrosa que deixei tudo pro fim. Tive que concordar com um aceno e voltei a observar a rua. Senti duas mãos no meu ombro e Isa tinha um sorriso no rosto enquanto dizia "não é diferente do resto do mundo, Fernanda, todo mundo tem medo. Essas suas críticas internas não vão te levar a lugar algum". Abracei ela e não queria mais que aquele abraço acabasse.
A verdade é que o medo da novidade estava me apavorando. Não achava que eu daria conta de trabalhar em um comitê organizador nacional, de morar um ano em outro país com uma cultura diferente... e doía deixar algumas pessoas, doía me separar - mais ainda - de um irmão que quase nunca vejo, de um pai que escreveu em seu último e-mail "sinto que cada vez mais o Atlântico nos separa", de sentimentos que eu aceitei agora - e até o momento não tive nenhuma resposta aquele bilhete -, de um trabalho o qual eu só gostaria de me afundar mais ainda e outras inquietações. Claro, estou reclamando de barriga cheia, a experiência na Inglaterra vai ser sensacional (se não for a melhor da minha vida, vai ser a mais próxima), a experiência em morar um mês em São Paulo trabalhando pra Aiesec Brasil vai ser outra inesquecível, mas eu ando tão nervosa com esses novos passos que mal me concentro no que preciso fazer agora.
Me soltando daquele abraço, ri alto e falei "eu sou muito boba". Ela também riu e comentou "Não, você é só uma pessoa como todas as outras e...", "...pessoas são só pessoas", terminei a frase favorita dela.

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