A menina do telhado.

segunda-feira, agosto 12, 2013

Você não sabe o quanto é difícil terminar essas tarefas finais que me passastes antes da viagem.
Sério, a cada palavra que escrevo é uma dor que relembro, é um tapa que sinto espocar no rosto, é uma pausa para respirar e me confrontar de uma vez por todas; é me assegurar que ainda posso muito mais. Mas preciso agradecer à ti por isso. Escrever sobre nós e articulações já gastas é fazer com que os músculos retornem ao trabalho.
Usar aquilo que mais gosto de fazer para me testar e superar foi uma boa sacada, confesso. Lembro de um episódio da minha infância, dos poucos que gosto de lembrar: subi na aceroleira e dessa, fui para o telhado da casa da minha tia-avó. Eu só queria ver o pôr-do-sol e escrevi em um caderno o quanto era bonito ver de lá. Foi então que eu percebi que não sabia descer sozinha e esperei por muito tempo até virem me procurar. Lembro de ter pensado que eu poderia virar um João-de-Barro e fazer uma casinha por ali, caso não conseguisse mais descer. Coisa de criança mesmo. Mas imagina, naquela hora eu encarei a perspectiva de não descer com uma nova saída: me tornar um passarinho.
Fantasioso, mas não deixa de me emocionar quando eu lembro e isso me transmite um otimismo borbulhante dentro de mim. Mesmo escrevendo essa carta - há meses -, é a primeira vez que a leio e ela parece tão contente e otimista. Fico orgulhosa da criança que brotou aqui dentro, orgulhosa de como deixei que meus sentimentos pudessem ser tão sinceros e coerentes comigo mesma. Essa carta são tapas que levo, mas que ofereço o rosto para os mesmos. A segunda tarefa vai ser muito mais desafiadora: entregar a carta. Vou me acovardar, entregarei e fugirei para o outro lado do oceano sem esperar por uma resposta. Mas essa resposta está nam forma do sorriso mais bonito que eu conheço e para mim já é o suficiente.

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