E a vida segue com cor e sem alarde.

segunda-feira, novembro 09, 2015

E céu continua engarrafado do vermelho e amarelo aos finais de tarde.
Uma garrafa de cerveja, um pôr-do-sol rotineiro e uma música no fundo de uma tarde avermelhada na sacada daquele apartamento. São quase 5 anos de São Carlos, 4 anos daquele sétimo andar, e essa cidade continua tendo o céu azul mais bonito que conheço e o pôr-do-sol mais incrível. Não importa se foi sentada na pedra do Arpoador no Rio ou se foi descendo o Arthur's Seat em Edimburgo, onde vivenciei pores-do-sol de tirar o fôlego, São Carlos me prova todos os dias da minha janela o quanto pode surpreender a minha rotina.
Quando entro em casa, minha visão recaí na sacada, onde o sol do Oeste brilha tão forte durante a tarde, e rapidamente fecho as cortinas. Porém, já são 18h, e as frestas entre as folhas da cortina projetam na parede seus raios vermelhos. Ontem (ou anteontem?), eu estava apenas fazendo uma visita à cozinha para pegar água quando reparei que os raios iluminavam as paredes da sala, quase que fazendo um esforço enorme para se fazer presente ali.
Abri as cortinas e encarei um sol tão vermelho, num misto de nuvens amarelas e brancas. O tom de azul apertava-se ali e acolá entre uma nuvem e outra, mas o sol fazia-se tão grande e presente naquela massa que o azul sumia cada vez mais. Acompanhada de uma garrafa de cerveja, uma cadeira e uma caixa de som, observei o espetáculo daquela fusão do sol com o horizonte, até que o céu e o vento da noite fria que chegava fosse finalizar aquele momento.
Me espreguicei, senti as juntas todas estalando. Último gole de cerveja, um sorriso e a certeza que eu sentia muita saudade de muitas coisas e pessoas - como sempre fico sentindo. Repeti para mim que eu gostaria que elas estivessem ali na sacada também. Enquanto há a ausência, também há o otimismo que as coisas irão se fazer presentes, uma hora ou outra.
Com um bocejo preguiçoso, retirei a cadeira da sacada. Percebi que a luz que iluminava a sala tinha fonte nas luzes da rua. Uma última olhada para o horizonte e o azul escuro dançava lentamente com o cinza das nuvens.
"E tudo foi desbotando, até desaparecer", como Cícero diz.

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