Sobre aliens, o universo, aleatoriedades e alguns emaranhados.

terça-feira, novembro 24, 2015

Perto do apartamento onde eu morava até metade do ano passado em Newcastle havia um morro gramado, onde muitos costumavam ir à noite observar as estrelas. Eu sempre passava do lado dele de bicicleta, porém nunca prestando muita atenção que ali poderia ter uma boa oportunidade de rever algumas coisas que estavam soltas na minha cabeça.
Uma das vezes que tentei subir aquele morro, fui perseguida por uma vaca. Sim, por uma vaca. Cômico, se eu não tivesse morrido de medo daquele ser maior que eu na minha direção com a cara de poucos amigos. No dia seguinte, eu fui com a bicicleta, entrando naquela lama e subindo. Avistei que as vacas estavam longe e aproveitei a deixa para poder subir até o topo. Carregava o celular, um caderninho (sempre!), uma garrafa de vinho (sempre também!) e algumas memórias boas.
Coloquei a bicicleta apoiada e sentei na grama enquanto puxava algumas canetas e o caderninho. Comecei a desenhar o pôr-do-sol. Eu sou apaixonada por pores-do-sol e aquele lembrava muito o que tenho todos os dias na minha sacada em São Carlos. Abri o vinho e fui bebendo da garrafa mesmo, enquanto observava as vacas lá embaixo preguiçosamente se aquietando para dormir e cantava a música que vinha do celular.
As primeiras estrelas começaram a surgir e me deitei. Senti falta de alguém que não sabia exatamente quem era e nem nome tinha. Gosto de conversar sobre aliens, o universo e aleatoriedades com as pessoas que gosto, e ali parecia um momento muito bom para dividir com outra pessoa. Pensei no meu irmão e em como eu gostaria que ele estivesse observando as mesmas estrelas que eu.
Ri um pouco, não sei se alcoolizada ou apenas de mim mesma pelos pensamentos bobos. Eu sempre gosto das coisas pequenas, como observar o pôr-do-sol, ou um bilhete do nada em cima da mesa de casa, ou o envio de um link de uma música para mim por um amigo. Sempre fui pelo delicado, pelo artesanal e pelo coração. 
Se eu não tivesse tanta timidez, talvez fizesse muitas coisas e falaria mais algumas. Mas por enquanto eu estava ali, pensando em como queria dividir aqueles raios e estrelas com alguém pra, sim, falar sobre aliens, universo, aleatoriedades e alguns emaranhados. Liguei para o meu pai e contei que queria que ele estivesse ali. Naquele momento eu voltei a ser a criança tímida e nervosa que eu era, mas que ali, com aquela voz, estava enrolada num abraço. 
E talvez eu ainda fosse tímida e nervosa, mas era uma tímida e nervosa satisfeita por estar ali sentada na grama, ouvindo suas músicas prediletas e falando com a pessoa que eu mais amo debaixo daquele tapete de estrelas.

You've got time to realize you're shielded by the hands of love
'Cause you are young!
You've got time you gotta try to bring some good into this world
'Cause you are young, 'cause you are young!
(Keane) 


Para Fernando Pina.


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