Fazia muito tempo que eu não me envolvia com alguém. Talvez uns 2 anos e meio. Foi uma escolha que eu fiz depois de uma grave crise de depressão em 2014 que teve como gatilho a faculdade, choque cultural reverso, problemas familiares, e especialmente, um relacionamento abusivo. A escolha foi tomada na esperança que eu me conhecesse melhor sozinha, que minha própria companhia me fosse o suficiente e que toda a determinação que eu perdi durante 3 anos lutando contra a depressão me retornasse.
Graças a psicológa, remédios, amigos e, principalmente, ao meu próprio esforço, tudo isso foi alcançado. Na virada do ano de 2016 para 2017, lá estava eu, sozinha no meu apartamento. Fiz a ceia de natal, cozinhei tudo, comprei um vinho e cerveja de alta qualidade, meus melhores cigarros e observei da minha sacada os fogos da virada do ano. Eu estava em paz.
Tive algumas tentativas de envolvimento amoroso nesse tempo entre 2014-2017, porém na maioria, acabei fugindo ou não insistindo. Eu tinha muito medo de me entregar, de sentir os sentimentos ruins mais uma vez, de errar na escolha. Utilizando o ego como obstáculo, com muito sucesso, eu mantive meu castelo intacto.
Em 2017, eu tive a surpresa de (re)conhecer alguém, um amigo que na minha cabeça nem passava a ideia que eu fosse me interessar. No começo foi bem complicado, lá estava o meu castelo, seu devido fosso e muralhas. Alguns amigos e o próprio moço testemunharam a minha dúvida e as vezes que eu quis desistir. Na mesma época, eu estava um tanto quanto num pequeno romance com uma moça à distância. Chegou num ponto que eu precisava tomar uma decisão e eu acabei conversando a com a moça para que nos tornássemos apenas amigas, enquanto eu investia no moço. Essa foi a primeira decisão. Passar de algo mais irreal para algo concreto, que significava que eu estava não só investimento no relacionamento entre eu e ele, mas também deixando que meus sentimentos fossem mais longe do que eu estava acostumada nos últimos 2 anos e meio.
E as coisas foram lindas. É claro, alguns problemas, mas nunca é perfeito. E qualquer maneira, tudo foi muito bonito. Seja à distância, seja na parte presencial. Eu realmente não esqueço como me senti em alguns momentos. As lembranças realmente são muito boas. Todos os sorrisos, todos os beijos. E eu estava feliz que havia encontrado alguém que me entendia em muitos sentidos e que me complementava.
Só que as coisas passaram a mudar no final de julho, ainda no período presencial. Eu esperava que haveria alguns obstáculos, nós dois sempre tivemos algumas posições distantas sobre alguns assuntos e personalidades diferentes. Porém, o que eu me deparei foi muito além. Não foi visível, foi silencioso.
Eu vi meus sentimentos não sendo levados em consideração. E a questão não era que a pessoa não se importava, mas ele não conseguia ou ainda não consegue ver esse ponto. E não é uma situação de continuar um relacionamento que estava sendo finalizado, e sim, que essa finalização já estava sendo esperada desde antes. Eu não via, mas ele sabia, e se silenciou. Havia uma diferença de sentimentos entre nós dois e das expectativas que ambos tínhamos para aquele laço. E isso nunca foi discutido antes que se tornasse um conflito propriamente dito. Houve uma falha de comunicação e foi o suficiente para que as coisas começassem a se arrastar por semanas, porque os dois queriam estar juntos, porém as ideias do "junto" eram diferentes.
E não é quem está certo ou errado nesse ponto. Tudo bem você mudar de opinião ou simplesmente perceber que algo não está indo no caminho que você achava que deveria ir. Mas é quando você interrompe, vira pra outra pessoa e fala "meu, acho que não é por aí". E isso é normal, é o certo a se fazer quando você respeita o outro. Há muitas justificativas para não fazer isso. Medo de ficar sozinho, egoísmo, possessividade e outros. Mas continua sendo uma falta de responsabilidade e de respeito com o/a companheiro/a quando você não faz isso.
Eu passei por isso. Houve um rompimento e eu não compreendi. Com a minha baixa auto-estima, eu passei muito tempo procurando as respostas nos meus erros. Me chamei de otária, de boba, de destruidora de relacionamentos - mais uma vez, pois olá 2014, eu não tive saudades de você. E nesse meio tempo, alguns problemas extras começaram a dar o ar da graça. Os gatilhos vieram e a Fernanda estável, bem e feliz de antes perdeu o equilíbrio. Com a instabilidade, é claro que eu não ia conseguir resolver o conflito de relacionamento. Era óbvio que eu deveria focar todas as minhas forças em mim mesma e me retirar dessa laço.
O que foi e ainda é muito triste. Algumas discussões ainda retornam sobre isso, mas uma das coisas que tiveram que ser sacrificadas (mesmo que, se tudo der certo, temporariamente) é a amizade. Algo que pra ele era simples de ser continuado, para mim não era tão óbvio assim. Talvez fosse mais fácil se a comunicação dos dois tivesse sido mais efetiva. Eu com menos medo de fazer perguntas e ele com mais clareza e sinceridade no que sentia.
Eu ainda acho que ele é uma pessoa incrível em vários sentidos. Ao mesmo tempo, que algumas coisas que eu via ele pregando não fazem sentido algum para o que ele é. Uma parte de mim é raiva emocional, enquanto a outra parte gostaria de falar sobre música, livros e sobre as dificuldades de um cotidiano que, para ambos, não é tão fácil assim. No fundo, eu ainda acredito que ele não se compreende tanto, mas que ele está fazendo o que pode para chegar lá. Às vezes eu sinto que ele não me compreende e talvez eu também não o compreenda bem. Ele ainda precisa a aprender a ser menos egoísta, enquanto eu trabalho para que o meu ego não se sobreponha a tudo na minha vida.
Enquanto a mim, eu devo voltar a reestabelecer meu equilíbrio emocional, e também agora, equilíbrio físico. Resolver algumas problemas pessoais também, evitar que eles me puxem pra baixo. Focar no que ainda me aguarda e completar meu ciclo. Começar a me preparar para ir embora para um pouco mais longe. Evitar guardar as lembranças ruins e a ter paciência, muita paciência, comigo mesma e com os outros.
Ele ainda me completa muito bem, mesmo com todas as diferenças que apareceram. Foi isso que me fez decidir pela tentativa. Eu falei pra ele que queria ajudar a enfeitar os dias dele e espero ter feito isso, pois ele acabou fazendo. Eu ainda acho que ele não me compreende, mas talvez eu não o entenda também. Ele não compreende o que eu quero falar e eu não entendo o que ele sente. Espero que a gente se compreenda, talvez em algum dia perdido por aí.