Então, fechei o punho e senti a adrenalina tomar conta.
Naquelas horas que és capaz de fazer qualquer coisa, qualquer erro - ou acerto.
Quando vi a cena, ao meu lado, a primeira coisa que veio na mente foi: "filho-da-puta!" e o primeiro ato seria um soco, um tapa, qualquer forma de violência física que me deixasse libertar aquele ódio contido. Senti-me um animal, prestes a proteger sua ninhada da ameaça de outro maior e mais forte. E era quase isso que estava acontecendo. Eu, fraca, em choque, utilizando da violência como única forma de defesa.
Para evitar, corri. Corri até onde pude, até as lágrimas começarem a cair. Tristeza? Não, eram lágrimas de raiva.
Existia uma certa relutância em assumir aquelas lágrimas. Corri de novo. Movida pelo ódio, enlacei-o. E desta forma o arrastei por meia arena. Ao virar e me encarar, houve a surpresa, a queda e então, as súplicas. Eu queria matá-lo, todo o meu corpo estava clamando por isso, mas minha boca foi muito mais rápida. Todas as palavras que saíram de mim foram como tapas no rosto dele e quanto mais eu repetia, mais desespero havia entre nós.
De repente, em um misto de intensidade, palavrões, revolta, os dois completamente insanos, houve um beijo violento e por fim, houve um esquecimento de tudo que nos separara, de qualquer problema, de qualquer pessoa.
E então o mundo dormiu em paz.


Só que, atualmente, existe um porém. Um grande porém.

"You're the dangerous kind."


Eu me liberto por fim para prender-me novamente.
Queria saber a razão disso tudo e o porquê dessa minha mente adorar brincar de gato e rato comigo mesma? Há três meses atrás, eu me sentia um lixo, por dois motivos. O meu erro no Baile do Brega e o do Aparato Urbano de Projeto-A. Mas este último eu havia pensado que havia eliminado com as férias. Doce ilusão.
E não é que o tal erro voltou com uma fúria, rasgando todos os conceitos de ética, decência e qualquer coisa que havia em mim logo no início de agosto. Eu nem tinha coragem de admitir pra mim mesma, imagine pra qualquer outra pessoa. Então você passa três semanas mergulhada em seus pensamentos e acorda.

Acontece que, dentro de mim, o tal erro levou a melhor.

Uptown, the street's in a calming way

And outside is warm as a bed with a maid

(Beirut)

Eu quase poderia estar fazendo coisas úteis, mas não há tesão suficiente pra fazer o trabalho de cálculo, nem para ler os textos do meu seminário, nem para pensar em como a semana foi um tanto triste, nem absurdamente nada. O curioso da solidão é que sei as causas, mas nem vontade suficiente tive para consertar isso ou tentar remediar. Falta tesão.
Ou vergonha na cara.
Até minha timidez deu um salto de qualidade. Ela já era ótima, agora está além do excelente!
Pelo menos a minha culpa, que estava me deixando tão mal, agora parece mais calma. É aceitar o que você faz e não errar novamente. Não é isso que todos dizem? É, eu sei. Se existisse um papai do céu, eu talvez poderia pedir mais juízo e clamar por inocência; mas não tem. Então sobra aprender a lição, as consequências ruins e boas dela e não repetir em um próximo relacionamento. Ninguém manipula o tempo e tudo tem uma explicação, então, não me venha com paradigmas!
Hahaha, ontem foi diagnosticado bronquiolite, devido à viagem de São Paulo ter me levado às complicações de uma gripe. Repouso absoluto. Como se mal consigo ficar parada um segundo? Dormir é sinônimo de delícia, mas o tempo todo é perda de tempo. E lá foi a Fernanda, pegar uma dose de vodka, tomar um banho e acordar pra vida. Rá! Nada que uma vodka não resolva meus problemas!
Tá faltando tesão pra tudo? Ou é só preguiça? E cadê Belém? É, deve ser saudades da minha cidade quente e úmida, suas mangueiras lindas e sua chuva da tarde. Ou pode ser que minha cabeça esteja mais lenta que o comum e precise digerir/refletir todos os eventos desses últimos - turbulentos - três meses. Ou seja um sentimento engraçado, não é tristeza, nem arrependimento da decisão, é só um crescimento interno o qual fui forçada a ter... e só.

(tomarei vergonha na cara um dia e pararei de usar músicas nos meus títulos -- "The Bitter End", Placebo)

Ela sai do apartamento. Elevador, rua.
Acabara de sair de uma noite péssima em São Carlos, comparada às noites anteriores em São Paulo.

Conto fictício --


Uma risada compartilha a outra. Duas vozes que falam de seus desejos, seus sonhos, hábitos, gostos. Dois corpos, que presos em um magnetismo, não podem se aproximar para evitar levantar suspeitas. Havia um segredo ali. Um segredo construído na noite anterior. Cada ser bocejante aos poucos foi adormecendo nos quartos próximos e o silêncio começou a reinar no corredor. A cada palavra, um tremido, uma vontade violenta de abraça-lo.
Então, a despedida, os beijos - tão perigosos - e o pedido de mais. Houveram alguns sorrisos e enfim, entraram no quarto. Debaixo da mesma coberta, entrelaçados os corpos, os beijos recomeçaram. Não havia mais culpa ali, como acontecera na noite anterior, existia uma entrega total ao sentimento. Os beijos foram mais sinceros possíveis, assim como cada carinho, afago, ou olhar - apesar da escuridão.
As risadas baixas se confundiam com os suspiros, os estalos dos beijos foram encorbertos pelo barulho do vento que anunciava uma madrugada chuvosa. E as duas bocas, quase em desespero, iam encaixando-se. E acabou que eles dormiram, sem saber se adormeceram em um beijo ou não.
Ela acordou espantada às 5:30 da manhã e olhou pro lado. Ele dormia tranquilamente; então, ela arrumou o edredom para aquecê-lo bem, depositou-lhe um beijo nos lábios, colocou o celular dele no lugar combinado e saiu de fininho do quarto. Sorriu e dormiu.

(texto ruim, resultado de uma madrugada sem inspiração)