Nota mental de hoje: "Se eu tivesse a força / Que você pensa / Que eu tenho / Eu gravaria no metal / Da minha pele / O teu desenho..." (3x4 - Engenheiros do Hawaii)


Adormeceu.
Ela movimenta-se no colchão, acorda. Celular. Horas. Ainda só está começando a madrugada; ainda só está começando a poesia. É inevitável pensar. Sua cabeça parece estar pesada, seus olhos estão cansados, não há voz em sua garganta.
Seus olhos fecham para procurar o sono, todavia isso não é o suficiente para impedir as lágrimas de pularem para o travesseiro. Seus punhos se fecham, como se quisessem forças. Coloca as mãos no rosto como quem quisesse proteger a si mesma. Soluções e o frio da noite, que não parecem incomodar ninguém.
Em sua cabeça, um filme completo de quase 1 ano atrás.
O ônibus, as voltas nele, o primeiro beijo deles, a primeira vez que um segurou na mão do outro, a timidez, o medo, o pedido de namoro, as alianças, as risadas, as saídas juntos, o cinema, o reencontro diário, o aniversário dele, os votos, a pizzaria, o aniversário dela, o nhoque feito pelos dois (com ele salvando a mão dela), as tardes juntos, as escapadas, os abraços de tirar o fôlego, os beijos trôpegos, o dia que ficaram sem luz deitados no chão, "lá em cima", filmes em casa, presentes, cartas, as duas noites, fotos 3x4, o cursinho, as brincadeiras, as caretas, os beliscões, as cócegas, as músicas, os sorrisos, as vezes que andaram por Belém juntos, os olhares, os pais deles, os beijos roubados, o shopping, as fotos, msn, depoimentos, álbuns, sms antes das 6h da manhã, as ligações de horas, ela ligando pra Tomé-açu, o cartão feito a mão por ela, a paciência dele, biscoitos, sorvetes, a rosa, o perdão, Pump It Up, Guitar Hero, blog, fotolog, corações nas apostilas, juras, choro juntos, estudo juntos, companheirismo e carinho.
Lágrimas quentes. Mais soluços. No quadro de avisos, uma foto 3x4 e um bilhete. Ela havia aprendido a lição. Detestava o egoísmo e orgulho mais do que nunca e estava disposta a dar seu melhor. Não estava cega mais. Mas ele estava disposto a lhe dar uma chance para demonstrar tudo isso? Para que ela lhe demonstrasse todo seu amor? Que ela lhe fizesse feliz?
"Aonde está você agora... além de aqui, dentro de mim?".
Forças para caminhar, forças para lutar.

"Confundo as tuas coxas com as de outras moças
Te mostro toda a dor
Te faço um filho
Te dou outra vida pra te mostrar quem sou"

(Faz Parte do Meu Show - Cazuza)
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Insônia. Outro dia amanheceu e Fernanda olhando pro nada.
"É apenas outro dia..." pensa. Se levanta depois que percebe que seu pai já havia saído para o trabalho. Banho gelado, café sem gosto. "Esqueci de lembrar papai de comprar adoçante". Ri das besteiras do irmão. Computador. Parece tudo tão mecânico. Essa vida parece tão mecanizada, tão igual a dos outros. Ela não a quer, não quer.
Fotos do ano passado. Repentinamente, ela grita ao sentir a dor, o choro. Soluços fortes, quase bloqueando sua respiração. Banheiro. Alguém pergunta o que houve. Diz que está bem. Alguém repete a pergunta. Nervosa, ela diz que está bem, de novo.
Respira fundo, vai para o quarto e olha o quadro de avisos. Uma foto e um bilhete dela para ela mesma. Fecha os punhos. "Você é forte, Fernanda. Um dia o sol vai abrir. Esteja pronta", pensa ao fechar os olhos, também. Limpa as lágrimas e um sorriso ofusca sua dor, nem que seja por alguns segundos.