Monólogo #10 - Gole de Vida

domingo, abril 26, 2009

Então o relógio parou. A mente estancou. O coração congelou. Não havia vozes, risos, olhares, pensamentos. Estaria ela morta? Dormindo?
Estava deitada aconchegada na lajota branca, que estava um tanto suja, porém isso não importava. Tinha um braço cobrindo os olhos e a respiração densa. Não havia vento, calor, frio. A vida havia cessado, qualquer movimento havia parado. As cores haviam fugido quase completamente; todavia Mariana estava em tons normais e estalava os dedos com vigor.
Sentada em uma cadeira, estava perto dele e longe dela. Apesar de tudo estar congelado, ela percebia o olhar distante e confuso dele. A outra, deitada no chão, aparentava um misto de angústia e tranqüilidade. Mariana suspirou, ajeitou a blusa listrada, levantou-se e caminhou até a garota. Acariciou-lhe os lábios, seu pescoço e ombro. "Conheço-te bem", sibilou cheia de ciúmes. Suas mãos deslizaram sob o colo macio, claro, semi-adulto; retirou-as no ponto entre-seios. Mordeu o lábio inferior, chateada. Foi então ao encontro dele. Tocou-lhe o rosto, os cabelos. O perfume já tão conhecido exalava. Ele possuía uma expressão indefinível: agoniado, frágil.
Num suspiro, ela sentou num canto, esperando algo. Os longos cabelos estavam presos num coque bagunçado, o olhar estava oscilando entre ela e ele e as mãos brincavam com pequenas formigas paralisadas. Não chovia, incrivelmente. Mordeu a língua, soltou um gemido de dor e fez uma careta. Queria poder fazer algo, porém nem queria se meter nisso. Mordeu o lábio inferior de novo e fechou o punho.
Lentamente, as cores retornavam, a vida pulsava, os movimentos voltavam, o barulho reaparecia. Ele levantou-se da cadeira, com a velocidade gradualmente acelerando-se, caminhou e deitou-se sob a garota. Esta, por sua vez, tirou o braço que vendava-lhe os olhos e Mariana pode ver a surpresa em seus olhos. E depois, pode vê-los encararem os do rapaz. Dois minutos de intervalo nisso e então ele aproximou lentamente os lábios dos dela. As bocas roçaram-se um tanto; um longo beijo concretizou-se. Mariana sentiu a pontada de ciúmes por ela e ao mesmo tempo, sentiu bem ao vê-los naquela situação.
"Existem momentos, minha flor, que suas ações não me incluirão nelas", e desviou o olhar, trabalhando em seu próprio equilíbrio.



(Cena fictícia.)

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